Biografia

quinta-feira, abril 10, 2008


Clarice Lispector nasceu na cidade russa de Tchetchelnik, na Ucrâ­nia, quando seus pais, Pedro Lispector e Marian Lispector deixavam a terra natal com destino às terras brasileiras. Ela tem duas irmãs mais ve­lhas, Elisa e Tânia.
A família vai se instalar em Recife, onde a futura escritora começa a estudar. As primeiras letras são feitas no Grupo Escolar João Barbalho. Como Samuel Rawet, nascido na Polônia, Clarice Lispector curiosamente, vai aprender muito bem o português e se tornar dominante de uma das mais belas linguagens literárias no país de adoção.
Já aos nove anos de idade tenta a sua primeira experiência no mundo das letras. É uma pequena peça de teatro. Lê autores brasileiros como Monteiro Lobato e José de Alencar. O curso ginasial é feito no Colégio Sílvio Leite, do Rio de Janeiro, para onde a família se transferira em 1934.
Seu interesse pela literatura é crescente: já lê Machado de Assis e Graciliano Ramos, e descobre Hermann Hesse e Julien Green. Mais tarde leria Katherine Mansfield, de quem os críticos aproximam a sua literatura. Em 1943 está na Faculdade de Direito e começa a escrever o seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, publicado no ano seguinte. Os críticos se dividem quanto à apreciação do romance, mas ele conquista o Prêmio Graça Aranha.
Por esta época casa-se com seu colega de turma, Mauri Gurgel Valen­te, que, mais tarde, na carreira diplomática, leva a mulher por muitos países. Assim é que Clarice Lispector escreve grande parte de sua obra no exterior.
O segundo romance, O Lustre, é de 1946. A crítica literária o recebe sem restrições, embora aponte-lhe a influência de Katherine Mansfield e Virgínia Woof. Reside por algum tempo em Berna e em 1949 lança A Cidade Sitiada. O famoso pintor De Chirico pinta-lhe o retrato. Em 1952 publica Alguns Contos e já trabalha no romance A Maçã no Escuro, que será editado em 1961 com grande sucesso. Com este romance conquista novo prêmio, o Carmem Dolores Barbosa, de São Paulo.
Em 1959 e escritora retorna definitivamente ao Brasil. Tem dois fi­lhos, Pedro e Paulo. Embora conhecida, principalmente pelos críticos e professores universitários, Clarice Lispector ainda tem dificuldades de pu­blicar seus livros. Em cartas para as irmãs, ela diz: "Não sei se você sabe que a Agir não quer ou não pode publicar meu livro". Ela se referia a O Lustre. Mais tarde, não consegue publicar também A Maçã no Escuro, devolvido pela Civilização Brasileira e José Olympio. O romance sairia pela Francisco Alves.
De volta ao Brasil, no entanto, as coisas começam a ficar mais claras, pois colabora em revista e jornais e se torna mais conhecida. Seu novo livro de contos, incorporando o primeiro, Laços de Família, é lançado em 1959. Seus livros anteriores começam também a serem reeditados. Em 1964 um novo livro de contos, A Legião Estrangeira. Fumante inveterada, sofre, em 1966, grave acidente em casa, ao dei­xar cigarro acesso em seu quarto: queima as mãos e um pouco o rosto, mas se restabelece. No ano seguinte passa a escrever uma crônica semanal no Caderno B do Jornal do Brasil. Seu nome agora representa o que de melhor tem a ficção brasileira e seus livros começam a ser traduzidos.
Um novo romance, A Paixão Segundo G.H., sai em 1968. Ela agora vive intensamente a vida literária, com entrevistas, conferências, congres­sos. A sua biografia, como a de tantos escritores, passa a ser quase que somente uma biografia literária. Em 1969 publica Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres. Em 1975 reúne uma nova coletânea de contos, Felici­dade Clandestina.
Entre 1976 e 1977, quando morre de grave doença, Clarice Lispector conclui seus dois últimos, romances, A Hora da Estrela, publicado ainda em vida, e Um Sopro de Vida, editado no ano seguinte de sua morte. Sobre este último livro, o depoimento de Olga Borelli, uma sua amiga, é muito importante: "Iniciado em 1974 e concluído em 1977, às vésperas de sua morte, este livro, de criação difícil, foi, no dizer de Clarice, 'escrito em agonia', pois nasceu de um impulso doloroso que ela não podia de­ter." A ordenação dos manuscritos deste livro foi confiada a Olga Borelli pelos filhos de Clarice.
Em 1984, as suas crônicas dispersas em jornais são reunidas no volu­me A Descoberta do Mundo. Tanto o livro de Olga Borelli, Clarice Lispec­tor, Esboço para um Possível Retrato, publicado em 1981, e onde trans­creve algumas cartas da autora, quanto este livro de crônicas, servem de complemento biobibliográfico de Clarice Lispector, tendo o leitor, agora, uma visão de conjunto da obra de uma grande e original escritora.
Olga Borelli sintetiza: "Defini-la é difícil. Contra a noção do mito, de intelectual, coloco aqui a minha visão dela: era uma dona-de-casa que escrevia romances e contos. Dois atributos imediatamente visíveis: integri­dade e intensidade. Uma intensidade que fluía dela e para ela refluía. Procurava ansiosamente, lá, onde o ser se relaciona com o absoluto, o seu centro de força — e essa convergência a consumia e fazia sofrer. Sempre tentou de alguma maneira solidarizar-se e compreender o sofri­mento do outro, coisa que acontecia na medida da necessidade de quem a recebia. O problema social a angustiava. Sabia o quanto doíam as coisas e o quanto custava a solidão."
Clarice Lispector morreu ainda moça, pois de sua imaginação criado­ra muito ainda se esperava, os leitores e críticos e exegetas, que cedo se apaixonaram pela sua importante obra.


por Assis Brasil

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