O Lustre (trecho)

terça-feira, janeiro 27, 2009

Ela estacara. Um grande silêncio seguira-se. Olhara-o e descobrira na sua trêmula vitória a mesma perturbação. Ele lhe trouxera timidamente um grito. Fitaram-se um instante e tudo era indeciso, frágil, tão novo e nascente. E tudo era tão perigoso e revolvido que ambos desviaram quase bruscamente os olhos. Mas havia alguma coisa encantada entre eles nesse momento. Embora ela jamais se ocupasse verdadeiramente de Deus e raramente rezasse. Diante da idéia dele permanecia surpreendentemente calma e inocente, sem um pensamento sequer. Daniel afastava-se. Naque­le tempo ele começara a pensar e a dizer coisas difíceis com gosto e amor. Ela ouvia inquieta. Ele passeava de ida e de volta pelos corredores penumbrosos do casarão com os braços cruzados, abstraído. Virgínia perscruta­va-lhe inutilmente o rosto de boca cerrada, os olhos escuros indecisos, aquela quase feiúra que se agravava com a idade, o sofrimento e o orgu­lho.

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