Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2013

Feliz 2014!

A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe. Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda. Clarice Lispector, crônicas - Jornal do Brasil (1968).

93 anos de Clarice Lispector

"É um nome latino, né, eu perguntei para o meu pai desde quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e se transformando nessa coisa que parece "LIS NO PEITO", em latim: flor de lis". Clarice Lispector

Programa: O mundo de Clarice Lispector - Parte 2

Programa: O mundo de Clarice Lispector - Parte 1

Um pouco de felicidade clandestina

Seis anos se passaram desde a criação deste Blog. Meu único objetivo com este Blog foi o de fazer com que a obra de Clarice Lispector pudesse se propagar para o maior número de pessoas. Trata-se de um objetivo cumprido; na época em que o Blog foi lançado, o conhecimento “internético” de Clarice nem se comparava ao que é hoje. Eu sempre adorei Clarice como uma personagem que “o sonho humano alimenta, [que] não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”, tal como postulou Cecília Meireles ao falar da “liberdade”. Chegamos ao fim de mais um ano de blog e ao início de mais um ano de tudo. Hoje nós somos o maior canal do mundo sobre Clarice Lispector - apoiados pela Editora Rocco, responsável pelas publicações das obras de Clarice Lispector. E saibam: nada disso teria sido possível se vocês não tivessem tido a urgência para uma coisa que o mundo inteiro chama desesperadamente de “respiração”. Keidy Matias , do Nordeste do Brasil/Rio Grande do Norte, historiadora pel...

A Maçã no Escuro

Segunda parte: Nascimento do herói Três Mas foi só de noite, sentado ereto na cama e sem acender a lamparina, que Martim entendeu plenamente o que quisera significar quando pensara que restava pouco tempo. Com espanto percebeu que na verdade não se referira ao tempo que lhe restava para planejar a fuga. Embora, desde o momento em que falara com Vitória no alpendre, tivesse agido como se fosse óbvio que a fuga deveria ser naquela mesma noite, antes que o caminhão fosse usado por Vitória, e se ele quisesse estar bem longe quando ela se encontrasse com o alemão. Mas como se a escuridão do depósito o levasse à sua própria escuridão, ele se entendeu afinal: não era para a fuga que restava pouco tempo. Estivera tão ocupado em planejar a escapada que não percebera que não pretendia fugir. “Ele tinha que possuir tudo antes do fim e tinha que viver uma vida inteira antes do fim.” Era para isso que o tempo se tornara curto. Com um espanto deslumbrado — porque a verdade é que até esse in...

Café com Clarice - Natal, RN.

Nélida Piñon lança volume de ensaio onde cita sua relação de amizade com Clarice Lispector

Se no clássico 'A república dos sonhos' a romancista, ensaísta e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras Nélida Piñon volta à Galícia, na Espanha, para falar de suas raízes e de seus antepassados, em 'O livro das horas', com o mesmo encantamento, nos envolve em dezenas de histórias vividas ao longo dos anos. Logo nas primeiras linhas, com o coração aberto, confessa: “Não sou forte nem poderosa. Tampouco estou na flor dos 20 anos. Não faz falta enaltecer o meu retrato que a mãe Carmen outrora pendurou em seu quarto antes de morrer, com a intenção de eternizar a juventude da filha na sua retina... A cada dia aprendo a amar. A família, os amigos, as línguas, as instância da vida e da arte.” Nascida em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro, há 76 anos, Nélida Piñon estreou na literatura em 1961, com o romance 'Guia-mapa' de Gabriel Arcanjo, primeiro passo na carreira literária que a levaria a se tornar uma das escritoras mais respeitadas do país. Na s...

A Maçã no Escuro

Segunda parte: Nascimento do herói Dois   At é que nessa tarde na encosta Martim começou a se jus­tificar. Chegara o duro tempo de explicação. Ali, antes de prosseguir, ele devia ser inocente ou culpado. Ali ele tinha que saber se sua m ãe, que jamais o entenderia se fosse viva, o amaria sem entendê-lo. Ali ele devia saber se o fantasma de seu pai lhe daria a mão sem espanto. Ali ele se julgaria — e dessa vez com a linguagem dos outros. Agora teria de chamar de crime o que fizera. O homem estremeceu com medo de tocar errado em si, ele que ainda estava todo ferido. Mas porque profundamente sabia que at é a farsa usaria contanto que conseguisse sair inteiro de seu próprio julgamento — de tal modo, se não se absolvesse, ficaria perplexo com um crime nas m ãos — porque sabia que não se permitiria sair senão inteiro do perigoso confronto é que teve coragem de se encarar e, se necessário, de se horrorizar. E mais: como s ó se permitiria vencer, pois no ponto em que estava...

A Maçã no Escuro

Segunda parte: Nascimento do herói Um Mas nessa mesma noite, andando excitado de um lado para outro dentro da pequenez do dep ósito, Martim mal se conteve com o que ganhara. Era a alegria. Não sabia o que fazer de si como se tivesse uma notícia e não houvesse a quem dá-la. Estava muito contente de ser uma pessoa, este era um dos grandes pra­zeres da vida. No entanto, inconsolável, parecia-lhe que jamais seria indenizado. E pela primeira vez desde que fugira tinha necessidade de se comunicar. Sentou-se no bordo da cama, a cabe ça feliz entre as mãos. Não sabia por onde começar a pensar. Então lembrou-se de seu filho que um dia dissera na hora do jantar: não quero esta comida! A mãe retrucara: que comida você quer? O me­nino terminara dizendo com o doloroso espanto da descoberta: —   Nenhuma! Ele, Martim, ent ão lhe dissera: —   É muito simples: se você não está com fome, não pre­cisa comer. Mas a crian ça começara a chorar: —   Não estou com fome, não ...