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Mostrando postagens de maio, 2013

A Maçã no Escuro

Segunda parte: Nascimento do herói Dois   At é que nessa tarde na encosta Martim começou a se jus­tificar. Chegara o duro tempo de explicação. Ali, antes de prosseguir, ele devia ser inocente ou culpado. Ali ele tinha que saber se sua m ãe, que jamais o entenderia se fosse viva, o amaria sem entendê-lo. Ali ele devia saber se o fantasma de seu pai lhe daria a mão sem espanto. Ali ele se julgaria — e dessa vez com a linguagem dos outros. Agora teria de chamar de crime o que fizera. O homem estremeceu com medo de tocar errado em si, ele que ainda estava todo ferido. Mas porque profundamente sabia que at é a farsa usaria contanto que conseguisse sair inteiro de seu próprio julgamento — de tal modo, se não se absolvesse, ficaria perplexo com um crime nas m ãos — porque sabia que não se permitiria sair senão inteiro do perigoso confronto é que teve coragem de se encarar e, se necessário, de se horrorizar. E mais: como s ó se permitiria vencer, pois no ponto em que estava...

A Maçã no Escuro

Segunda parte: Nascimento do herói Um Mas nessa mesma noite, andando excitado de um lado para outro dentro da pequenez do dep ósito, Martim mal se conteve com o que ganhara. Era a alegria. Não sabia o que fazer de si como se tivesse uma notícia e não houvesse a quem dá-la. Estava muito contente de ser uma pessoa, este era um dos grandes pra­zeres da vida. No entanto, inconsolável, parecia-lhe que jamais seria indenizado. E pela primeira vez desde que fugira tinha necessidade de se comunicar. Sentou-se no bordo da cama, a cabe ça feliz entre as mãos. Não sabia por onde começar a pensar. Então lembrou-se de seu filho que um dia dissera na hora do jantar: não quero esta comida! A mãe retrucara: que comida você quer? O me­nino terminara dizendo com o doloroso espanto da descoberta: —   Nenhuma! Ele, Martim, ent ão lhe dissera: —   É muito simples: se você não está com fome, não pre­cisa comer. Mas a crian ça começara a chorar: —   Não estou com fome, não ...