A Partida dos Homens (trecho)

quinta-feira, julho 31, 2008

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O silêncio ficou palpitando atrás dele em peque­nos sussurros. Há quanto tempo estivera observando-o, sem sentir.
Ah, então ela morreria.
Sim, que morreria. Simples como o pássaro voa­ra. Inclinou a cabeça para um lado, suavemente co­mo uma louca mansa: mas é fácil, tão fácil... nem é inteligente... é a morte que virá, que virá... Quantos segundos haviam decorrido? Um ou dois. Ou mais. O frio. Percebeu que por um milagre to­mara agora consciência daqueles pensamentos, que eles eram tão profundos que haviam decorrido sob outros materiais e fáceis, simultaneamente... En­quanto ela vivera o sonho, observara as coisas ao redor, usara-as mentalmente, nervosamente, como quem crispa as mãos na cortina enquanto olha a paisagem. Fechou os olhos, docemente serena e can­sada, envolvida em longos véus cinzentos. Um mo­mento ainda sentiu a ameaça de incompreensão nas­cendo do interior longínquo do corpo como um flu­xo de sangue. Eternidade é o não ser, a morte é a imortalidade — boiavam ainda, soltos restos de tormenta. E ela não sabia mais a que ligá-los, tão can­sada.
Agora a certeza de imortalidade se desvanecera para sempre. Mais uma vez ou duas na vida — tal­vez num fim de tarde, num instante de amor, no mo­mento de morrer — teria sublime inconsciência cria­dora, a intuição aguda e cega de que era realmente imortal para todo o sempre.
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