A Víbora (trecho)

segunda-feira, julho 28, 2008

Que transponho suavemente alguma coisa...
Otávio lia enquanto o relógio estalava os se­gundos e rompia o silêncio da noite com 11 bada­ladas .
Que transponho suavemente alguma coisa... Ê a impressão. A leveza vem vindo não sei de onde. Cortinas inclinam-se sobre as próprias cinturas languidamente. Mas também a marcha negra, parada, dois olhos fitando e nada podendo dizer. Deus pou­sa numa árvore pipilando e linhas retas se dirigem inacabadas, horizontais e frias. É a impressão... Os momentos vão pingando maduros e mal tomba um ergue-se outro, de leve, o rosto pálido e pe­queno. De repente também os momentos acabam. O sem-tempo escorre pelas minhas paredes, tortuoso e cego. Aos poucos acumula-se num lago escuro e quieto e eu grito: vivi!
A noite calava as coisas lá fora, algum sapo coaxava a intervalos. Cada arbusto era um vulto imóvel e recolhido.
Longe brilhavam e tremiam pequenas luzes avermelhadas, olhos insones. Na escuridão como da água.
[...]

1 Clariceanos