Quase de Verdade

sábado, dezembro 20, 2008

Era uma vez... Era uma vez: eu!
Mas aposto que você não sabe quem eu sou. Prepare-se para uma surpresa que você nem adivinha.
Sabe quem eu sou? Sou um cachorro chamado Ulisses e minha dona é Clarice. Eu fico latindo para Clarice e ela — que entende o significado de meus latidos — escreve o que eu lhe conto. Por exemplo, eu fiz uma viagem para o quintal de outra casa e contei a Clarice uma história bem latida: daqui a pouco você vai saber dela: é o resultado de uma observação minha sobre essa casa.
Antes de tudo quero me apresentar melhor.
Dizem que sou muito bonito e sabido. Bonito, parece que sou. Tenho um pêlo castanho cor de guaraná. Mas sobretudo tenho olhos que todos admiram: são dourados. Minha dona não quis cortar meu rabo porque acha que cortar seria contra a natureza.

A Vida Íntima de Laura

sábado, dezembro 13, 2008

Vou logo explicando o que quer dizer “Vida íntima”. É assim vida íntima quer dizer que a gente não deve contar a todo o que se passa na casa da gente. São coisas que não se dizem a qualquer pessoa.
Pois vou contar a vida íntima de Laura.
Agora adivinhe quem e Laura.
Dou-lhe um beijo na testa se você adivinhar. E duvido que você acerte! Dê três palpites.

Viu como é difícil?
Pois Laura é uma galinha.

É uma galinha muito da simples.
Peço a você o favor de gostar logo de Laura porque ela é a galinha mais simpática que já vi. Vivi no quintal de Dona Luísa com as outras aves. É casada com um galo chamado Luís. Luís gosta muito de Laura. embora às vezes brigue com ela. Mas briguinha à-toa.
Acho que vou ter que contar uma verdade. A verdade é que Laura tem o pescoço mais feio que já vi no mundo. Mas você não se importa, não é? Porque o que vale mesmo é ser bonito por dentro. Você tem beleza por dentro? Aposto como tem. Como é que sei? É que estou adivinhando você.
Outra verdade: Laura é bastante burra. Tem gente que acha ela burríssima, mas isto também é exagero: quem conhece bem Laura é que sabe que Laura tem seus pensamentozinhos e sentimentozinhos. Não muitos, mas que tem, tem Só porque sabe que não é completamente burra ela fica toda prosa e boba. Ela pensa que pensa. Mas em geral não pensa coisíssima alguma.
Luís passeia o dia inteiro no terreiro entre as galinhas, de peito inchado de vaidade. É porque ele pensa que, sabendo cantar de madrugada, manda na Lua e no Sol.
[...]
Você sabe que Deus gosta de galinha? E sabe como é que eu sei que Ele gosta? É o seguinte: se Ele não gostasse de galinha, Ele simplesmente não fazia galinha no mundo. Deus gosta de você também senão Ele não fazia você. Mas por que faz ratos? Não sei.
Laura não beija ninguém. Acho que ela dá umas bicadinhas meio sem jeito em Hermany. Aliás nunca vi ninguém mais sem jeito que essa galinha. Tudo o que ela faz é meio errado. Menos comer. E, é claro, ela faz um ovo certo.
Existe um modo de comer galinha que se chama “galinha ao molho pardo”. Você já comeu? O molho é feito com o sangue da galinha. Mas não adianta mandar comprar galinha morta: tem que ser viva e matada em casa para aproveitar o sangue. E isto eu não faço. Nada de matar galinha.
[...]
Que bom ser protegida por um habitante de Júpiter, pensou Laura e começou a dormir de novo. Mas acordar no meio da noite bem que cansou Laura, e no dia seguinte a cozinheira disse a Dona Luísa:
— Laura está com cara de ontem.
“Cara de ontem” quer dizer cara de maldormida.
Acabou-se aqui a história de Laura e de suas aventuras. Afinal de contas, Laura tem uma vidinha muito gostosa.
Se você conhece alguma história de galinha, quero saber. Ou invente uma bem boazinha e me conte.
Laura é bem vivinha.