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Mostrando postagens de 2011

Aniversário de Clarice Lispector

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A Maçã no Escuro (trecho)

Primeira parte: Como se faz um homem Quatro Com a nova limpidez da visibilidade, o torpor do homem desapareceu. E como se agora sua energia estivesse a seu pró¬prio alcance e medida, ele se ergue sem nenhum esforço. Uma alerteza impessoal o tomara como a de um tigre de patas ma¬cias. Agora ele era real e silencioso. Quando chegou ao ponto da encosta de onde só poderia descer, divisou a casa rodeada de terras verdes lá embaixo, como a seus pés, mas num tamanho diminuto que lhe deu uma idéia da verdadeira distância. Começou então a descer o declive, suavemente encorajado nas costas pelo próprio declive. Guiado pela sede como único pensamento, o homem não sentiu os pas¬sos progressivos e achou-se enfim no mesmo nível do seguinte: a casa distante, um outro homem que ao longe estava sentado sob uma árvore, vários cachorros espalhados pelo chão. Agora Martim viu o casarão em pé de igualdade: era maior do que pensara e havia um denso agrupamento de árvores es¬curas, ele não podia saber a que ...

Sem medo algum de ser Clarice Lispector

Por Isabelle Barros Praça Maciel Pinheiro , Boa Vista, centro do Recife. Lugar onde Clarice Lispector (1920-1977) passou alguns dos anos mais importantes de sua infância e a fez afirmar, em entrevista próxima à sua morte: “O Recife está todo em mim”. Para evocar a memória da moradora ilustre, o lugar abriga uma das 12 estátuas de concreto que integram o Circuito da Poesia, homenagem feita a artistas que tiveram Pernambuco como parte integrante de sua vida e obra. Esta é uma imprecisão histórica, pois a escritora jamais publicou poemas. A Clarice de cimento está sentada, com a máquina de escrever no colo. Tem como vizinhança os trapos da lendária Juraci, moradora de rua conhecida como a Rainha do Real. Dizem os taxistas da região que, de vez em quando, ônibus escolares e turísticos fazem uma rápida parada para tirar fotos da escultura antes de seguirem viagem. A atenção atraída pela homenagem é medida por outra variável, distante do mundo literário. “Não tem aquele abajur vermelho ali, ...

A Maçã no Escuro (trecho)

Primeira parte: Como se faz um homem Três De tardinha Martim começou a imaginar — pela qualida¬de da terra mais fina e pelo encontro eventual de árvores com frutas — que se aproximava talvez de algum povoado. Tentou comer uma das frutas desconhecidas que, verdes e sem sumo, apenas lhe arranharam a boca ávida. Mas um ar mais fresco soprava, e trazia cheiro de água corrente. A terra ali era mais negra. E o encontro de samambaiaçu lhe deu uma sensação de molhado que arrepiou em lubricidade suas costas secas. O próprio silêncio se tornara diferente. Embora o homem não percebesse nenhum som, os passarinhos voavam mais agi¬tados como se ouvissem o que ele não ouvia. O homem parou atento. Havia um deslocamento de ar como se um dinossauro se transladasse lento em alguma parte do globo. E, continuando a andar, por vezes o vento lhe trazia um clamor vago, uma reivindicação mais intensa. Era um alarme de vida que delicadamente alertou o homem. Mas com o qual ele nada soube fazer como se v...

A Maçã no Escuro (trecho)

Primeira parte: Como se faz um homem Dois Aquele homem andou léguas deixando o casarão cada vez mais para trás. Procurou andar em linha reta e às vezes se imo¬bilizava um segundo agarrando com cautela o ar. Como andava nas trevas não poderia sequer adivinhar em que direção deixara o hotel. O que o guiava no escuro era apenas a própria inten¬ção de andar em linha reta. O homem bem poderia ser um negro, tão pouco lhe servia a claridade da própria pele, e ele só sabia quem era pela sensação em si próprio dos movimentos que ele próprio fazia. Com a mansidão de um escravo, ele fugia. Certa doçura o tomara, só que ele vigiava a própria submissão e de algum modo a dirigia. Nenhum pensamento perturbava sua marcha constante e já insensível, senão de vez em quando a idéia mal aclarada de que talvez estivesse andando em círculos, com a desconcertante possibilidade de se achar de novo diante das paredes do hotel. Sempre, além do chão que os passos alcançavam, era a escuridão. Já caminhara horas, o...

Blog Clarice Lispector: meio milhão de visitas

O Blog Clarice Lispector completou meio milhão de visitas! Obrigado a todos os clariceanos e clariceanas. O Blog disponibiliza aos leitores de Clarice um selo comemorativo. Olhara-o e descobrira na sua trêmula vitória a mesma perturbação. Ele lhe trouxera timidamente um grito. Fitaram-se um instante e tudo era indeciso, frágil, tão novo e nascente. Clarice Lispector - O Lustre, trecho.

Do Rio de Janeiro e seus personagens - 1° lugar

Clarice é presença dentro e fora da pele. Lê-la é soltar a alma ao ar livre. É aprender a respirar no fundo do mar, ou no espaço sideral: no início, morre-se de asfixia. Mas, logo depois, a atmosfera de Clarice invade a antiga forma de viver, e então se necessita respirá-la para estar vivo. Autoria: Solange Frigatto .

Promoção: Do Rio de Janeiro e seus personagens

O Blog Clarice Lispector está realizando uma nova promoção. O vencedor será contemplado com o livro “Clarice Lispector - Do Rio de Janeiro e seus personagens - Crônicas para jovens”, organizado por Pedro Karp Vasquez. O participante deverá elaborar uma frase que tenha por objetivo “definir” Clarice Lispector. 1 - Da inscrição * O texto deverá ser enviado para o e-mail blogclispector@gmail.com . * O participante receberá uma confirmação por e-mail de que o texto foi recebido e está concorrendo. * Envie sua frase em arquivo .doc do Microsoft Office Word ; * Utilize a fonte Times New Roman , tamanho 12; * O nome do autor do texto é obrigatório; * Envie o link de seu blog (não obrigatório). 2 - Dos critérios de escolha * É fundamental a utilização da língua portuguesa culta; * O Blog analisará se a frase atende ao objetivo proposto. 3 - Da divulgação do resultado * As frases serão aceitas até o dia 08 de abril de 2011. * Os vencedores serão comunicados via e-mail; * O resultado será divul...

Do Rio de Janeiro e seus personagens

Quando voltou definitivamente para o Brasil, Clarice Lispector não teve dúvidas e escolheu o Rio de Janeiro para fixar residência e criar seus filhos. Como cronista, sempre procurou seus temas nas ruas da cidade ou em conversas com seus mais bem informados habitantes. Em Do Rio de Janeiro e seus personagens – Crônicas para jovens, a autora conduz o jovem leitor a um instigante passeio pela Cidade Maravilhosa por meio de suas crônicas. O mar e a floresta são presenças constantes em seus textos. O murmúrio do Oceano Atlântico, que ela ouvia do terraço do seu apartamento, costumava acalentar suas insônias. E crônicas como “Um reino cheio de mistério” e “O ato gratuito” foram inspiradas em suas frequentes visitas ao Jardim Botânico. Além de contemplar a natureza privilegiada do Rio de Janeiro, as crônicas cariocas de Clarice têm na vida cotidiana da cidade o ponto de partida para relatos, como os de empregadas domésticas ou de motoristas de táxi, que quase sempre se desdobram em consideraç...

Concurso Cultural: 1° lugar.

A Descoberta de uma alma. Bruna Mendes Roza Rodrigues Blog: http://bubuhdulce.blogspot.com Nunca soube realmente o que eu era ou o que eu deveria ser. Nunca soube sorrir na hora errada ou afogar-me em lágrimas na hora certa. Nunca soube decidir o quão seria forte, ou não. Porém, desde que soube o que minha alma pensa, passei da ilusão para a verdadeira solidão. Descobrir o verdadeiro valor de um sorriso talvez se encontre na mesma intensidade de descobrir o sopro da palavra, já que lá do fundo vem o verdadeiro reflexo do que encontro em minha alma. Nisso, Clarice me inspira. Clarice consegue reviver cada pedaço da minha carne, do meu olhar ao redor de um mundo que nada vale, que dificilmente escolhe-me. Sua influência transgride o nada para o tudo, o vazio para o completo. Seu olhar sobre o mundo passa a mim a clareza do que posso ou não encontrar em uma vida que ainda não encontrei. Clarice leva-me para um interior no qual ainda não havia encontrado. Um interior nulo e completo de eni...

Concurso Cultural: 2° lugar.

Clarice em minha vida Nara França Blog: http://ironia-cronica.blogspot.com Clarice Lispector me foi apresentada, quando eu tinha dez anos de idade, por uma professora, que disse achar que eu fosse me identificar com a escritora. “Perto do Coração Selvagem” foi o primeiro livro de Clarice a me tirar do chão, me jogar no abismo, de olhos fechados, e me fazer voar... Até hoje, leio e releio Clarice, aos sobressaltos – alma inquieta, ferida constantemente aberta. Ao saber da existência de Clarice, passei a saber cadinho mais da minha própria existência – o olhar dela sobre a vida não me deu, não me dá, respostas, mas sim, mais e mais indagações. E, até hoje, mantenho esses encontros e reencontros com ela – lendo e relendo Clarice Lispector, com a sensação de ter nas mãos – entre as páginas de cada livro dela – o próprio coração da escritora, que ainda pulsa, e causa êxtase... A vida de Clarice continua permeando a minha vida. A cada releitura, Clarice me fala tanta coisa. Mesmo quando ela ...

Concurso Cultural: 3° lugar.

Clarice Lispector: a diva na vida de uma medíocre mortal Lindiane Cardoso Blog: http://asletras-eeu.blogspot.com Não me recordo da primeira vez que encontrei Clarice. Acho que foi no Magistério. Mas isso, não tem tanta importância. O que realmente importa é que seu nome me chegou como fruto do acaso, sem esperar, sem desejar. Ouvi, gostei da sonoridade, da força e beleza enraizada no sobrenome Lispector. Mais tarde descobri o seu significado e pensei: ela é uma lis no peito, uma flor que nós carregamos no lado inverso ao direito, naquele canto onde retumba o órgão encarregado de sentir o amor. Eu amo Clarice. Percebo isso todas as vezes que escuto seu nome: me arrepio; quando alguém diz que não gosta dos seus escritos, da sua “loucura” e complexidade: me armo de argumentos e defendo-a; sempre que escuto um elogio direcionado a seu respeito: fico contente e me gabo de conhecê-la; quando leio suas palavras: vejo-a diante de mim, viva, falando comigo com seus “rr” enrolados, problema de d...

Resultado – Seu link no blog

Caros Clariceanos, O Blog agradece a todos pelo envio dos links. Todos eles foram visitados e revisitados. Resultado final: http://nas-entrelinhaas.blogspot.com [ visite ] http://aartedaliteratura.blogspot.com [ visite ] http://www.obatomdeclarice.blogspot.com [ visite ] http://atorremagica.blogspot.com [ visite ] Blog Clarice Lispector.

Por Enquanto (A Via Crucis do Corpo)

Como ele não tinha nada o que fazer, foi fazer pipi. E depois ficou a zero mesmo. Viver tem dessas coisas: de vez em quando se fica a zero. E tudo isso é por enquanto. Enquanto se vive. Hoje me telefonou uma moça chorando, dizendo que seu pai morrera. E assim: sem mais nem menos. Um dos meus filhos está fora do Brasil, o outro veio almoçar comigo. A carne estava tão dura que mal se podia mastigar. Mas bebemos um vinho rosé gelado. E conversamos. Eu tinha pedido para ele não sucumbir à imposição do comércio que explora o dia das mães. Ele fez o que pedi: não me deu nada. Ou melhor me deu tudo: a sua presença. Trabalhei o dia inteiro, são dez para as seis. O telefone não toca. Estou sozinha. Sozinha no mundo e no espaço. E quando telefono, o telefone chama e ninguém atende. Ou dizem: está dormindo. A questão é saber agüentar. Pois a coisa é assim mesmo. Às vezes não se tem nada a fazer e então se faz pipi. Mas se Deus nos fez assim, que assim sejamos. De mãos abanando. Sem assunto. Sexta...

Obras disponíveis no blog

. Clique nos títulos para ler trechos: Minhas Queridas (2007) Como Nasceram as Estrelas (Infantil 1987) A Descoberta do Mundo (Crônicas 1984) A Bela e a Fera (Contos 1979) Quase de Verdade (Infantil 1978) Um Sopro de Vida (Romance 1978) Para Não Esquecer (Crônicas 1978) A Hora da Estrela (Romance 1977) A Vida Íntima de Laura (Infantil 1974) A Via Crucis do Corpo (Contos 1974) Onde Estivestes de Noite (Contos 1974) Água Viva (Romance 1973) Felicidade Clandestina (Contos 1971) Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (Romance 1969) A Mulher que Matou os Peixes (Infantil 1968) O Mistério do Coelho Pensante (Infantil 1967) A Paixão Segundo G.H. (Romance 1964) A Legião Estrangeira (Contos 1964) A Maçã no Escuro (Romance 1961) Laços de Família (Contos 1960) A Cidade Sitiada (Romance 1949) O Lustre (Romance 1946) Perto do Coração Selvagem (Romance 1943) .

Seu link no Blog Clarice Lispector

Na barra lateral do Blog Clarice Lispector há um espaço, denominado “visite”, destinado a divulgar blogs e que é preenchida por dez links. Envie o link de seu espaço como comentário nessa postagem para que concorra a uma das quatro vagas disponíveis. Critério de escolha: - Relação do conteúdo do seu blog com o do Blog Clarice Lispector. Resultado: - Dia 15 de janeiro de 2011. Boa sorte! Participe do Concurso Cultural “Clarice Lispector: de escrita e vida” . .

Ele me Bebeu (A Via Crucis do Corpo)

É. Aconteceu mesmo. Serjoca era maquilador de mulheres. Mas não queria nada com mulheres. Queria homens. E maquilava Aurélia Nascimento. Aurélia era bonita e, maquilada, ficava deslumbrante. Era loura, usava peruca e cílios postiços. Ficaram amigos. Saíam juntos, essa coisa de ir jantar em boates. Todas as vezes que Aurélia queria ficar linda ligava para Serjoca. Serjoca também era bonito. Era magro e alto. E assim corriam as coisas. Um telefonema e marcavam encontro. Ela se vestia bem, era caprichada. Usava lentes de contato. E seios postiços. Mas os seus mesmos eram lindos, pontudos. Só usava os postiços porque tinha pouco busto. Sua boca era um botão de vermelha rosa. E os dentes grandes, brancos. Um dia, às seis horas da tarde, na hora do pior trânsito, Aurélia e Serjoca estavam em pé junto do Copacabana Palace e esperavam inutilmente um táxi. Serjoca, de cansaço, encostara-se numa árvore. Aurélia impaciente. Sugeriu que dessem ao porteiro dez cruzeiros para que ele lhes arranjasse...